Emitte Spiritum tuum, et creabuntur. Et renovabis faciem terrae
25 de julho de 2022Durante muitos anos da minha confusa adolescência acreditei que estava em uma era de progresso, que, naturalmente, o homem de hoje seria mais esperto, mais evoluído e até mais humano do que nossos antepassados. Acreditei no discurso acalorado dos meus professores de história, o discurso de que vencemos os preconceitos e nos tornamos, cada vez mais, uma sociedade melhor.
A mentira me passaria despercebida, claro, com algumas objeções e dúvidas, mas completamente despercebida, se não fosse uma pequena frase… Uma pequena frase que todo este panteão de professores da minha infância e adolescência repetia, com ares de progresso, sabedoria e novidade e que, no entanto, se encontrava em um dos livros mais antigos da história. O balbuciar ululante de meus professores clamando “O QUE É A VERDADE!?” estiveram também na boca de Pôncio Pilatos.
E por mais que isto possa parecer a muitos um simples fato trivial, foi para mim o farol que iluminava a distante ilha da verdade. A pergunta capciosa que me incentivava a pensar que a verdade não existia, me fez, pelo contrário, ver que ao menos uma verdade existia: a de que não havia nenhuma novidade ou progresso em questionar a existência da própria verdade.
Eu poderia dar continuidade a este texto argumentando, simplesmente, que só pergunta o que é a verdade quem nunca a viu. Que somente quem a conheceu poderia dizer: “eu sei o que é a verdade e dou testemunho dela”. Encerraria tranquilamente dizendo a obviedade de que eles não deveriam ter o direito de ensinar nada, visto que não creem em verdade alguma, ao passo que nos deveria ser dado todo o direito de ensinar qualquer coisa, pois nós clamamos: “Cristo é A Verdade!”.
Contudo, adotarei uma escrita de utilidade mais prática. Pretendo neste texto mostrar o quanto o progressismo é uma ilusão cômica, da qual é mais fácil rir do que crer. Posteriormente pretendo demonstrar qual é o único remédio contra este progressismo.
Para provar a comicidade disto que se chama progressismo gostaria de trazer a figura de um profissional cuja função é, justamente, a de nos entreter: O mágico. Sim, aqueles simpáticos senhores que insistimos em contratar para que tirem coelhos de cartolas em nossas festas infantis tem muito a nos dizer sobre o progressismo, precisamente por que eles têm muito a nos dizer sobre o que é uma ilusão.
Todos os truques desses mágicos estão imbuídos da antiga arte do ilusionismo, que consiste, basicamente, em distrair o espectador quanto ao que está realmente acontecendo enquanto atrai sua atenção para algo que, de fato, não está ocorrendo. Por exemplo, quando o mágico tira o coelho da cartola, ele utiliza de todos os artifícios para fazer crer que o coelho nunca esteve na cartola, e jamais permitirá que qualquer um dos espectadores examine a cartola para saber o que mais tem lá dentro ou o que mais pode sair dela. Também é assim no truque em que se usa uma serra para cortar uma mulher ao meio. Tudo é feito para fazer crer que a mulher foi de fato serrada ao meio e não que eram, na verdade, duas contorcionistas em uma caixa já dividida. Para que isso se torne mais verossímil, o ilusionista abre a caixa e coloca uma mulher inteira lá dentro, nos fazendo crer que é ela que será dividida. O que os progressistas fazem é algo bem semelhante a estes artifícios.
A grande ilusão progressista está em fazer grandes ilusionismos com um dos conhecimentos mais importantes para um ser humano saudável e frequentemente distorcido pelos seres humanos mais doentes: a história.
O progressista tira os direitos civis de uma cartola a qual chama revolução francesa, mas jamais mostrará o que mais há na cartola ou, mais precisamente, o que pode sair e o que de fato já saiu dessa cartola ou mesmo, se estes direitos vieram mesmo daquela cartola ou somente foram colocados lá dentro. Do mesmo modo, o progressista separará a mulher ao meio, retirando dela sua aptidão natural a maternidade e dizendo ser isso um direito lhe dado pela maravilhosa serra da revolução sexual, mas jamais abrirá as caixas com as mulheres contorcidas, se assemelhando muito pouco a qualquer figura verdadeiramente humana.
São exatamente estas duas distorções da história que faz do progressismo uma ilusão: a primeira é a de escolher a qual momento e a qual movimento histórico será atribuído algo que é inegavelmente bom; a segunda é a de esconder algo que é inegavelmente ruim, cuja a origem é um movimento que influencia seu tempo atual e que, por esta razão, deve ser defendido como progresso.
Para que não me acusem de fazer o que eles próprios fazem e de estar utilizando ilusões linguísticas para demonstrar seus supostos erros, provarei o que digo por meio do que hoje se chama “direito das mulheres”.
Um dos mais proclamados direitos das mulheres, ao qual tanto se roga prestígio aos movimentos feminista é o do sufrágio universal ou, deixando mais claro, o direito das mulheres votarem e serem eleitas. Longe de mim distorcer, por qualquer razão que seja, o fato de que, em determinado momento as mulheres não podiam votar e ser eleitas e que, no entanto, elas agora podem. Isso é um fato. Não se nega fatos.
Contudo, me parece estranho que um país como os Estados Unidos, depois de 100 anos de autorizado o voto feminino, nunca tenha tido uma presidente mulher. Particularmente estranho quando penso que a Inglaterra, país muito mais antigo que os EUA, já teve muitas mulheres governando sua nação. Na verdade, a Inglaterra já sustentou como rainhas as mulheres mais poderosas do mundo, como, por exemplo, Elizabeth Tudor. Isso, muito antes que um país chamado Estados Unidos da América fosse, sequer, imaginável.
A estranheza é ainda mais arrebatadora ao pensar que os EUA, essa nação que tem constantemente negado os poderes limitados da faixa presidencial às mulheres, tenha como origem histórica e cultural justamente a Inglaterra, que constantemente entregava uma coroa com poderes ilimitados a qualquer mulher nascida na família certa.
O que há aqui, e o que de fato gera estranheza, é um vazio, um corte histórico, uma falta de linearidade. E isso acontece, pois o progressista faz seu cômico ilusionismo com isso que chamamos de direito feminino ao voto. Ele esconde que a Revolução Francesa deixou a sociedade mais machista, negando à mulher qualquer direito político, mesmo daquelas que antes teriam direito até mesmo de governar. Ele o esconde pois sente o dever de proteger esta revolução. Do mesmo modo, atribui a conquista desse direito ao movimento das sufragistas, mas esconde a qualquer custo, que algum direito semelhante já existiu antes, pois isto tiraria parte do mérito das sufragistas.
Poder-se-ia dizer que as rainhas Inglesas, como Elizabeth Tudor, também sofriam machismo, ainda que rainhas. Isso bem é verdade, mas não posso crer que este povo seria mais machista do que os revolucionários que se quer suportavam a ideia de existir uma rainha. Poder-se-ia dizer que Elizabeth era uma exceção e que o povo inglês era machista, nos campos e nas cidades. Bem é verdade, de algum modo, mas não posso crer que os homens que sacrificaram suas vidas nas guerras cantando “Deus salve a Rainha” possuem uma visão pior das mulheres do que aqueles que iam para guerra cantando a “Marseillaise”.
O que quero dizer é que, sob a perspectiva do voto feminino, ou seja, assumindo o direito feminino ao voto como um progresso, jamais houve um progressismo. Em verdade houve um retrocesso e uma tentativa de retomada a um status quo anterior e mesmo assim, reafirmo, desde a revolução francesa nunca mais houve uma mulher como a pessoa mais poderosa do mundo, o que me faz crer que, tomando os direitos políticos femininos como progresso, ainda estamos em retrocesso. E, se estamos em retrocesso há 3 séculos, não pode haver, de modo nenhum, tal coisa chamada progressismo.
Esta mesma exposição poderia ser feita com vários outros supostos “direitos” da mulher como o de trabalhar ou o do aborto. Também poderia ser feito em relação com a escravidão, com a guerra e com tantas outras coisas. Todos aqueles direitos que os progressistas insistem e nos apresentar como progressos são geralmente uma retomada diante do retrocesso ou uma consequência própria de um retrocesso, criando problemas ainda maiores, como é o caso do aborto.
E, diferente do que muitos pensam, o progressismo não é alimentado por sociedades secretas ou fundações multimilionárias (embora, é claro, também não deixe de ser), mas sim por aquela pergunta insistente dos meus professores de história. Eu não creio que qualquer dos meus professores da adolescência recebesse um cheque mensal dos Rockfeller ou do Soros, mas acredito piamente que eles não sabiam o que era a verdade, e, justamente por não conhecê-la, não poderiam assumir qualquer posição quanto ao que seria um progresso ou um retrocesso. Acredito que por isso partiam do pressuposto que estavam em um momento de progresso, ou mesmo, no auge dele, assim como pensava o senhor do engenho quando aplicava penas aos seus escravos, ou o cientista nazista que criava instrumentos de assassinato em massa. Acredito que as pessoas de cada época tentaram justificar os comportamentos do seu tempo para que não tenham que transformar o seu tempo, ou mesmo, transformar a si próprios.
O progressismo não é um constante avanço do nosso tempo em direção a um ideal já definido, precisamente por que sem uma verdade, não pode haver um ideal. Ele parece mais com a justificativa do nosso tempo para o que estamos fazendo ou deixando de fazer. Ele frequentemente parece mais com uma justificativa para termos menos filhos por razões egoístas do que o progresso para uma sociedade com o “número ideal de filhos”. Parece mais uma justificativa para reclamarmos de todo tipo de coisa, colocando a culpa nos nossos pais, Estado, Igreja ou em quem quer que seja do que a busca por uma sociedade ideal em que “ninguém terá culpas, pois alteramos até a nossa linguagem para não ofender ninguém”. E parece isso justamente por que sempre que se alcança um “progresso” encontra-se outro a ser alcançado e ninguém pode prever qual será a próxima luta progressista, já que não há um projeto de mundo ideal progredido.
Para este ciclo de autojustificativa histórica, ao qual chamamos progressismo, só há um remédio: devolver ao mundo a sua base, ou, melhor dizendo, a sua Verdade.
Só uma Verdade nos foi revelada e é a partir dela que podemos medir qualquer progresso ou retrocesso. Se imitamos a Cristo, progredimos. Se não o imitamos, regredimos. Nos resta portanto responder o confuso “Quid est Veritatis?” do progressista com a imitação profunda daquele que disse “Ego Sum”.