Emitte Spiritum tuum, et creabuntur. Et renovabis faciem terrae
25 de julho de 2022É um tanto estranho pensar que não devemos almejar uma vida sem sofrimentos. Diante de cenários em que tanto se ouve que o importante é ser feliz, onde falar sobre a morte – a única certeza da nossa vida – causa assombro devido ao próprio medo diante à esta última, onde o que se deseja é todo o sucesso e toda a alegria do mundo, onde a vida na terra é vista como fim último e não como meio para um fim maior, sublime e sobrenatural.
Como cristãos, sabemos que Deus não nos criou para sermos felizes aqui na terra. Ele mesmo disse: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-me” (Lc 9,23). Em outras palavras, a cruz é a regra. Seguir Cristo é viver a vida Dele, dar os passos que Ele deu e viver a vida profundamente. Quando fazemos o contrário do que Cristo nos ensinou, fugindo da dor, atraímos mais dor para a nossa vida. Sem a cruz de Cristo nos tornamos mais sozinhos, egoístas, amargos e materialistas.
Pensando assim, temos duas opções: a) viver uma vida com sacrifícios aqui na terra ou b) nunca existir. Qual das duas você escolhe? Se você é uma pessoa com o mínimo de fé, escolheu a primeira. É muito melhor viver com sacrifícios aqui na terra e um dia ir para a glória de Deus do que nunca existir. Mas nós só conseguimos viver dessa forma se pensarmos na vida a partir do sobrenatural, da vida no céu. Infelizmente, aqueles que não acreditam no céu, não pensarão assim. Eles são materialistas e só pensam na felicidade aqui nesta vida.
No entanto, se por um lado sabemos que o caminho das facilidades e dos prazeres não é aquele que nos leva até Cristo, por outro lado, nos colocamos numa realidade muito distante da santidade, meio pelo qual caminharemos rumo à pátria celeste. Sabemos que Deus nos quer Santos. Mas, isso pode nos parecer tão distante, não é mesmo? Como ser santo? Pois bem, aqueles que hoje estão nas morados do céu foram feitos do mesmo barro que nós. A santificação acontece diariamente, suportando todas as dificuldades como sacrifício de amor à Cristo. Ao aceitar os sacrifícios e nos resignarmos a eles, cumprimos o nosso dever de agradar a Deus em tudo fazendo a Sua vontade. Feliz é aquele que vive sempre mirando a eternidade, pois sabe que um dia, seja breve ou não, o paraíso ou o inferno será a morada de sua alma. Já bem dizia Santo Afonso Maria de Ligório que “a fé faz o justo viver na graça de Deus, dá vida à alma desprendendo-a dos afetos terrenos, e lembrando-lhe os bens eternos que Deus promete aos que O amam”.
O próprio Cristo no horto disse: “Pai, se é do teu agrado, afasta de mim este cálice; não se faça, contudo, a minha vontade, mas a tua” (Lc 22,42). Nós não sabemos o que é bom para o nosso corpo, pois para isso vamos ao médico, quem dirá saber o que é bom para a nossa alma. Só Deus sabe. Como disse o Pe. Caussade, no livro O abandono à providência divina, “se a obra da nossa santificação nos oferece dificuldades tão insuperáveis na aparência, é porque não temos dela uma ideia exata. De fato, a santidade reduz-se toda a uma só coisa – a fidelidade à vontade de Deus. Ora, esta fidelidade está ao alcance de todos, tanto na sua prática ativa como no seu exercício passivo. A prática da fidelidade consiste no cumprimento das obrigações que nos são impostas. E o exercício passivo consiste na aceitação amorosa da tudo o que Deus nos envia a cada instante”.
Portanto, que possamos sempre avivar nossa fé crendo na vida eterna. E a cada sofrimento ou perseguição que sofrermos, lembrar do inferno que temos merecido por conta dos nossos pecados. Com esse propósito, conseguiremos carregar nossa cruz pelo caminho que devemos chegar até ao alto do nosso próprio calvário. Como prática diária, podemos rezar com fé, ao iniciar cada dia, o ato de abandono à providência divina.
Oração: Ato de abandono
Ó meu deu, eu não sei o que hoje há de me suceder, ignoro-o por completo; mas sei certamente que nada poderá acontecer-me que Tu não tenhas previsto, regulado e ordenado de toda a eternidade, e isto me basta. Adoro os teus desígnios impenetráveis e eternos e a eles me submete de todo o coração. Quero tudo, aceito tudo e uno o meu sacrifício do de Jesus Cristo, meu divino Salvador. Peço-Te, em seu nome e pelos seus merecimentos infinitos, paciência nas minhas penas e submissão perfeita e inteira a tudo o que me suceder segundo Teu divino beneplácito. Assim seja.